top of page
IMG_7008 editado_edited_edited_edited.jp

Interpretar modelos clássicos, explorar novos conceitos estéticos e criar formatos levemente orgânicos fazem parte do meu processo de criação. Através de técnicas de contraste marcante e de jateamento, suave ou profundo, busco em cada cachimbo o diálogo entre precisão e harmonia.

foto atelie cortada.png

Sou Flávia Guilherme, psicóloga clínica, mestra em Psicologia Social e artesã de cachimbos. Natural de Belo Horizonte, divido meu tempo entre a clínica psicanalítica – onde acompanho processos singulares de transformação – e o ateliê – onde transformo blocos de briar em peças únicas, cada uma com seu significado. Da escuta clínica ao trabalho manual, meu cotidiano é guiado por histórias de vida, análises, investigações, cores e texturas.

O ato de fazer cachimbos possibilitou-me acessar aspectos da minha subjetividade que eu não havia acessado por meio de meus processos analíticos ou de minhas investigações clínicas e acadêmicas. O encontro com essa artesania permitiu-me, ainda, investigar meu passado de um outro lugar e compreender como esse savoir-faire se inscreve em minha prática como psicóloga e pesquisadora.

Os aspectos da engenhosidade sempre estiveram presentes em minha vida desde a infância. Meu pai ocupava seu tempo livre criando e executando projetos para melhorar nosso lar e dar vida ao que parecia não ter mais uso. Com ele, aprendi a usar ferramentas, a valorizar o trabalho manual e as possibilidades de criar com as próprias mãos. Recordo-me de um episódio em que, durante suas férias, ele projetou e construiu um guarda-roupa de madeira embutido. Observei todo o processo e, após sua finalização, cada detalhe: as gavetas, as portas, os boiseries. A textura da madeira, acompanhada de um tom castanho claro, chamava-me a atenção. Tudo funcionava perfeitamente e era esteticamente harmônico. Achei tudo aquilo muito curioso.

É certo que o meu gosto pela criação tenha sido herdado dos meus ascendentes. Meu avô paterno foi um trabalhador de destaque da Mineradora Morro Velho, onde projetou e criou peças e soluções técnicas que contribuíram para o aprimoramento das condições de trabalho dos mineiros e para o progresso da companhia nos anos de 1950.

Imagens à direita: peças criadas e adaptadas pelo meu avô paterno Sérgio Rodrigues. Referência: Mineração Morro Velho. Sérgio Domingos Rodrigues. Operário Padrão, 1980. Acervo pessoal.

Macaquinho Sérgio.jpg
Injetor Sérgio.jpg
01a.jpg

Um salto para 2017, ano em que comecei a esculpir meus primeiros cachimbos. Ao deparar-me com esse saber-fazer, esculpi minha primeira peça: um modelo clássico cujo acabamento recebeu um suave jateamento de areia. Com um apelo levemente orgânico, meus cachimbos trazem referências das modelagens clássicas das escolas inglesa e dinamarquesa, combinadas a um design contemporâneo e único.​

À esquerda, uma imagem do terceiro Billiard que criei, finalizado com jato de areia.

Em meu processo artístico, gosto de interpretar modelos clássicos e sinto-me instigada a explorar novos conceitos estéticos, expressando minha subjetividade por meio de um design peculiar. Nos formatos levemente orgânicos, muitas vezes materializo meu diálogo com a natureza — minha outra paixão — e proponho uma experimentação com formas assimétricas. Esse traço se manifesta em algumas de minhas produções, especialmente no modelo conhecido como Volcano, que carrega minha assinatura autoral.

12.jpg
volcano sg.jpg
6_edited_edited.jpg
295288002_10158983911748137_3533438769677480638_n.jpg
277470609_154659350307175_17485118534695
dublin 2.jpg

O jateamento em areia — técnica que adotei no início da minha carreira como artesã e que, mais tarde, aprimorei durante processos de pesquisa e experimentação — tornou-se uma marca da minha criação. Nas peças com acabamento liso, desenvolvi minha própria técnica de contraste para destacar os veios da madeira. Por meio de um acabamento minucioso e delicado, transformo cada veio do briar em algo excepcionalmente belo e atraente — ora delineando sulcos suaves e profundos, ora desvelando um contraste marcante.

Com uma engenharia especializada e precisa, voltada a proporcionar uma fumada de excelência, exploro proporções de forma harmônica, destacando meticulosamente cada tipo de acabamento e incorporando materiais diversos, como metais, outras madeiras nobres, chifres e sementes — muitos deles nativos do Brasil, meu país. Para esculpir minhas peças, a matéria-prima é escolhida com rigor: utilizo preferencialmente blocos de briar italianos de alta qualidade, devidamente secos e tratados, provenientes de renomados fornecedores como Mimmo Romeo e Manno Briar; eventualmente, recorro também ao briar argelino. As piteiras, essenciais para a qualidade da experiência da fumada, são confeccionadas individualmente em ebonite alemã da mais alta qualidade.

1.jpg

No ato de esculpir cachimbos, encontrei o caminho entre a escuta e a criação. Nesse saber-fazer, descobri uma nova linguagem, uma forma de dar contorno aos meus processos de subjetivação. Nesse processo, conectei-me com os meus ancestrais e vi esse saber-fazer transformar-se na morada da minha expressão mais sutil.

Atualmente, sou a única mulher artesã de cachimbos em madeira da América Latina com reconhecimento internacional e espero que minha trajetória inspire e abra caminhos para outras mulheres nesse ofício.

FB_IMG_1758303164944_edited_edited.jpg
image.png
274312412_528604515179717_8787784634632368615_n.webp
manute.jpg
bambu.jpg
zulu.webp
2 contrast_edited_edited.jpg
  • White Instagram Icon
  • White Facebook Icon

Copyright © 2025 Flávia Rodrigues Todos os direitos reservados

bottom of page